A cirurgia é uma carreira incrível e altamente gratificante. Ao realizar uma cirurgia, o paciente permite ao médico(a) que use suas mãos para acessar a parte de dentro do corpo de seu paciente e corrigir algo que não esteja funcionando bem ou da forma esperada. E realmente, se sentir apto de ajudar alguém desta forma traz uma gratificação sem igual. Entretanto, o treinamento e a prática cirúrgica exigem foco, comprometimento e longas jornadas de trabalho.
Quando se pensa em um médico cirurgião, logo vem à mente da maioria das pessoas a imagem de um senhor que já passou dos seus 60 anos, o que obviamente é antagônico com a imagem de uma mulher jovem, principalmente se esta mulher em questão estiver grávida. E é baseado neste dogma social que, apesar dos avanços da sociedade moderna, há ainda diversas restrições na ingressão das jovens médicas em carreiras cirúrgicas, assim como em outras profissões que envolvam longas jornadas de trabalho, as quais muitas vezes podem ser pouco previsíveis e associadas a alta responsabilidade na tomada de cada uma das decisões no exercício de sua profissão.
Não é incomum que as mulheres sejam indagadas abertamente durante entrevistas profissionais durante ou após a sua formação médica sobre o seu estado civil e se há planos de uma gravidez em um futuro próximo, explicitando que esta situação representaria um entrave em assumir a posição de trabalho desejada por representar um potencial desfalque na equipe profissional que está sendo selecionada.
O fato de eu estar atualmente grávida me trouxe uma reflexão sobre este tema. Tenho tido sorte em vivenciar uma gestação tranquila, de modo que não percebo grandes diferenças hoje entre uma cirurgiã mulher grávida e um cirurgião homem barrigudo (risos). Ao contrário, o fato de carregar em minha barriga um bem tão precioso quanto o meu filho, me traz uma alegria que nunca senti antes, e não tenho dúvida que isto reflete e otimiza o cuidado que tenho com os meus pacientes, principalmente na sala cirúrgica.